O Cavaleiro do Espírito Santo – Uma Breve Biografia de G. K. Chesterton, por Dale Ahlquist



 Mantenha diante de seus olhos a suprema aventura da virtude. Se você é corajoso, pense no homem que foi mais corajoso que você. Se você é gentil, pense no homem que foi mais gentil que você. Era isso o que significava ter um santo patrono.” 1

A maioria das biografias tende a ser sobre o que aconteceu com uma pessoa. No caso de um santo, no entanto, a pessoa é a coisa que aconteceu. Um santo é um santo, e a palavra “santo” significa “separado”. Um santo é certamente alguém que está separado do resto de nós, e o resto de nós reconhece isso. Possivelmente, a primeira pessoa a descrever Chesterton como um santo foi – isso deveria surpreender você – George Bernard Shaw! E isso foi em 1921. A dupla ironia é que Chesterton ainda não estava morto – um dos requisitos para a canonização – e ele nem era católico, o que também parece ser um requisito. É claro que Shaw também não era católico. Sua opinião pode ser avaliada em conformidade com isso.

Mas ele não foi o único que reconheceu que GKC estava separado dos demais. Dentro de um ano da morte de Chesterton, vários outros estavam dizendo que ele era um santo: escritores, amigos, padres e pessoas comuns. Uma das irmãs Nicholl lembrou como a empregada da família, uma jovem galesa, reagiu à morte de Chesterton:

“Oh, senhorita”, disse ela, com lágrimas nos olhos. “Oh, senhorita, nosso Sr. Chesterton morrendo – ele era um como um santo, senhorita, não era? – apenas olhá-lo ao pegar seu chapéu já nos fazia se sentir muito bem.”2

Eles esperavam que a Igreja dissesse o mesmo, mas nenhum movimento se estabeleceu. Bem, nenhum movimento sequer começou. Não que não houvesse interesse; não havia um interesse organizado. É muito difícil para um leigo ser canonizado. A maioria dos santos teve a vantagem de se associar a uma organização já existente, que podia abrir uma petição e apoiar o trabalho necessário da Igreja para examinar completamente a vida do candidato. E, com uma ordem religiosa, já existe um cultus natural, um grupo de pessoas ativamente e visivelmente devotadas a esse santo e à sua obra. É menos provável, menos simples um cultus se formar em torno de um leigo. E, é claro, a outra razão pela qual é mais difícil para um leigo ser canonizado é que pode ser um desafio maior viver uma vida santa como leigo. A vida religiosa é naturalmente mais separada do mundo. A vida do leigo é necessariamente “no mundo”. É por isso que precisamos de mais santos leigos. Os leigos precisam ver que a vida leiga também é um caminho para a santificação, porque nem todos são chamados à vida religiosa, mas todos são chamados a ser santos. E precisamos de mais modelos para isso.

Acredito que G. K. Chesterton é um modelo de espiritualidade leiga. Acredito que ele é um modelo de misticismo leigo. E realmente acredito que ele também é um modelo de santidade leiga. 

Vamos considerar brevemente os dois primeiros modelos, e, depois, o terceiro modelo.

Chesterton diz que os sacerdotes são o sal da terra. Você não pode viver com o sal, mas não pode viver sem ele. Ele também fez de um padre um detetive, localizando os culpados, não para condená-los, mas para perdoá-los. Precisamos dos sacerdotes porque precisamos dos sacramentos, mas a Igreja precisa de muito mais do que os sacerdotes. A maior parte da Igreja consiste naqueles de nós que estão sentados nos bancos.

Uma jovem em Beaconsfield foi confrontada pelo pároco da paróquia de Santa Teresa: “Não a vejo na missa há três semanas”.

“Oh, eu estava lá, padre. Estava sentada atrás do Sr. Chesterton.”

Temos de fazer mais do que sentar nos bancos, é claro. No entanto, é uma boa ideia ficar atrás de Chesterton. Ele é uma das pessoas comuns. Um homem casado, um trabalhador. Mas ele também é um desajustado. Um gigante entre os anões. Um gênio entre tolos. Um homem feliz em meio a um mundo triste. Um homem profundo em um mundo raso. Precisamos ser desajustados em relação ao mundo. Essa é a essência da espiritualidade leiga. Este mundo não é o nosso lar.

Mesmo que a vida cristã seja uma vida de oração, Jesus nos lembra de manter a oração como algo privado, ainda que tenhamos o resto de nossas vidas em público. Apropriadamente, Chesterton revela muito pouco de sua vida de oração, exceto que revela tudo. Ele disse uma vez que rezava para que se lembrasse de tudo. Aparentemente, Deus concedeu esse pedido, uma vez que GKC podia se lembrar de livros que ele havia lido 30 anos antes, e não apenas se lembrar deles em geral, mas citar passagens inteiras, páginas inteiras deles por conta de sua memória prodigiosa. No entanto, ele também não se incomodava em lembrar de coisas sem importância, como de onde e quando seria sua próxima reunião, ou outros detalhes que normalmente preenchem nossas vidas e nossa atenção. Ele recordava-se do que era importante. Recordava-se do que estava realmente procurando. Ele estava procurando por Deus.

Ele revelou sua vida de oração da maneira que deveria ser revelada: mediante seu trabalho. Revelou isso em todos os seus escritos. São Paulo nos diz para orar sem cessar. As palavras de Chesterton são um ato contínuo de admiração, uma expressão de gratidão, um pedido de justiça, um salmo que evoca os Salmos. Sua consciência plena de Deus está presente em sua obra. Todos os seus livros, ensaios, poemas e histórias de detetive apontam para Deus. Ele é um modelo de espiritualidade leiga na maneira como ele honrou seu ofício e seu ofício honrou a Deus.

Ele e Frances tinham uma devoção à Natividade, o que é especialmente pungente, já que eles não tinham filhos.

O menino Jesus estava no colo de Maria,

Seus cabelos eram como uma luz.

(Ó, extenuado, extenuado estava o mundo,

Mas aqui está tudo certo.) 3

Chesterton sempre teve uma reverência por Maria. Ele nunca teve nenhuma das objeções protestantes à Santíssima Virgem e, portanto, não teve nenhum desses obstáculos protestantes específicos à sua conversão. Ele fez um retrato maravilhoso dela em A Balada do Cavalo Branco, muito antes de sua conversão. Foi Maria quem finalmente o trouxe por meio do limiar da Igreja. E ele rezou em silêncio seu Rosário.

Ele menciona Maria relativamente pouco em sua prosa, mas sua poesia está cheia de menções a ela. E algumas das imagens mais místicas em seus poemas a envolvem.

Um leigo pode ser um místico? Chesterton diz que a maioria das pessoas é mística. Misticismo é um senso comum.

Nenhum místico puro jamais amou o mero mistério. O místico não levanta dúvidas ou enigmas: as dúvidas e os enigmas já existem. Todos sentimos o enigma da terra sem que ninguém o indique. O mistério da vida é a parte mais clara dele. As nuvens e as cortinas das trevas, as névoas da confusão, são o clima diário deste mundo. A tudo isso nos acostumamos ao crescer, ao crescer nos acostumamos ao inexplicável. Toda pedra ou flor é um hieróglifo do qual perdemos a chave; a cada passo de nossas vidas, entramos no meio de alguma história que certamente entenderemos mal. O místico não é o homem que cria mistérios, mas o homem que os destrói. O místico é alguém que oferece uma explicação que pode ser verdadeira ou falsa, mas que é sempre compreensível – com isso quero dizer não que seja sempre compreendida, mas que sempre possa ser compreendida, porque sempre há algo a ser compreendido. O homem cujo significado permanece misterioso falha, penso, como místico. 4

O místico, diz Chesterton, mostra-nos o outro lado das coisas. O místico está em dois mundos ao mesmo tempo, e o mundo espiritual com sua realidade mais ampla não é obscurecido pelo mundo físico com sua realidade mais estreita, mas ainda muito importante. Assim como o místico está em dois mundos ao mesmo tempo, o mesmo ocorre com o leigo, que está em dois mundos ao mesmo tempo. E é importante que os leigos percebam que não podem viver em apenas um mundo. A tendência, é claro, é esquecer o mundo espiritual, mas há outro extremo que causa problemas. Existem movimentos leigos que fracassam ou são especialmente problemáticos porque os leigos se esquecem completamente deste mundo. Eles estão tentando viver vidas de ascetismo ou desapego que são adequadas para monges ou freiras contemplativas. Eles podem ter sucesso em ser ascetas. Mas eles falham em ser leigos.

O que Chesterton entende e toda a sua vida demonstra é que deve haver uma integridade em relação à santidade e uma adequação em relação à totalidade, para que seja realmente possível estar no mundo e não ser do mundo. Ou podemos até dizer, correndo o risco de má interpretação, que é possível consumir o mundo e não ser consumido pelo mundo.

O objetivo de Chesterton era ser normal. Mas o normal é ser um santo, que é o que fomos feitos para ser. Ser qualquer outra coisa é anormal. Esse é o paradoxo.

O homem comum sempre foi são, porque o homem comum sempre foi um místico. Ele permitiu o crepúsculo. Sempre teve um pé na terra e outro em um mundo encantado. Ele sempre se deixou livre para duvidar de seus deuses; mas (ao contrário do homem agnóstico de hoje) também é livre para acreditar neles. Ele sempre se preocupou mais com a verdade do que com a consistência. Se ele visse duas verdades que pareciam se contradizer, ele aceitaria as duas verdades e a sua contradição. Sua visão espiritual é estereoscópica, como sua visão física: ele vê duas imagens diferentes ao mesmo tempo e, no entanto, vê o melhor de ambas. Assim, ele sempre acreditou que existia o destino, mas também o livre-arbítrio. Acreditava que as crianças eram realmente do reino dos céus, mas, no entanto, deveriam ser obedientes ao reino da terra. Ele admirava a juventude porque era jovem e a velhice porque não o era. É exatamente nesse equilíbrio de aparentes contradições que tem flutuado o homem saudável. Todo o segredo do misticismo é este: que o homem pode entender tudo com a ajuda do que ele não entende. 5

Chesterton disse que a devoção era difícil para ele. Ele estava distraído com tudo. Era especialmente difícil na confissão, quando seu grande tamanho era uma distração dentro dos limitados aposentos do confessionário, e seu medo era de que, quando saísse, levasse o confessionário junto com ele. Mas isso poderia ser simplesmente sua humildade. Seus poderes de concentração eram surpreendentes. Um observador disse que em todas as conversas, não importava o quanto o sujeito vagasse, ele tinha uma concentração “como o ritmo subjacente ao canto”. 6

Aquilo no qual ele estava concentrado era a verdade. Ou melhor dizendo, Aquele que é a Verdade. Chesterton parece ter sido um contemplativo sem o benefício da cela do monge. Ele era um contemplativo no meio de nós, e temos o privilégio de conhecer seus pensamentos, porque ele os escreveu todos. Um de seus amigos de longa data, Rann Kennedy, disse que Chesterton estava “totalmente ciente da coisa. Ele trouxe a contemplação para esta terra e a tornou um hábito. Ele nunca pensou em si mesmo. Ele estava cuspindo o fogo de Deus. Talvez ainda mais profunda e misticamente, Kennedy afirmou que Chesterton era “alimentado por uma Eucaristia perpétua”. 7

Mas esse homem extraordinário que afirma ser comum, esse gigante, esse gênio, esse desajustado, é um santo? Em seu livro sobre São Tomás de Aquino, Chesterton escreveu: “O homem santo sempre esconde sua santidade; essa é a regra invariável.” 8

Obviamente, será uma decisão da Igreja Católica beatificar Chesterton, mas a Igreja não se senta e decide: “Quem devemos tornar um santo nesta semana?”. O Vaticano não inicia o processo. Tudo começa com um cultus dedicado a um homem santo ou uma mulher santa que tenha inspirado seus devotos a viver uma vida mais cristã. O cultus apresentao caso a um bispo, geralmente o bispo da diocese onde o sujeito morava. O bispo nomeia um padre para conduzir uma investigação sobre se há ou não motivos para abrir uma Causa. Depois de ler o relatório do investigador, o bispo aborda a Congregação para as Causas dos Santos, que determina se há algum obstáculo, do ponto de vista da Congregação, para uma Causa ser aberta. Se a Congregação não tiver objeção, o bispo poderá optar por abrir a Causa e o candidato será declarado “servo de Deus”.  Então, o verdadeiro trabalho começa. Um postulador é nomeado e a vida do candidato é minuciosamente examinada em busca de evidências de virtude heroica e do efeito de sua santidade sobre os outros, ontem e hoje. Finalmente, o candidato seria declarado Venerável. A próxima votação, como se costuma dizer, vem do Céu. Evidência de intercessão. Um milagre. Esse é o último passo.

A propósito, não há mais um advogado do diabo. As pessoas que não sabem nada sobre a Igreja Católica pensam que sabem tudo sobre a Igreja Católica. Dessa forma, quando surgiram as notícias de que o bispo de Northampton estava nomeando um investigador para G. K. Chesterton, houve vários críticos presunçosos que ofereceram seus serviços como advogados do diabo. Além de revelar sua ignorância do processo, eles também deram a entender que sentiam que era seu dever trabalhar em nome do diabo. Eles estavam se oferecendo para fazer um trabalho rápido, o trabalho do jornalista de trezentos quilos que fuma charuto. Um bêbado. Um antissemita. Um racista. E… Nós já mencionamos o fumo. Mas nós mencionamos que ele não quer que as mulheres tenham direito ao voto? A Igreja Católica, você sabe, quer nos trazer de volta à Idade das Trevas. 

G. K. Chesterton disse que viajar estreita a mente. Alguns podem considerar isso um paradoxo. Eles estariam certos. Aqueles que acham uma mera contradição não consideram que o agricultor em seu campo pense em coisas mais universais do que o turista, em seus trens e táxis, que se concentra apenas em chegar à próxima vista para ver e, entretanto, perde tudo o que vale a pena ver. O homem moderno é principalmente um turista. Ele só vê o que viaja para ver. 

Da mesma forma, Chesterton também disse que os escritores mais universais também são os mais locais e, como outros escritores universais, Chesterton também transcende seu tempo e lugar falando sobre seu tempo e lugar. Ele entende que o mundo moderno é uma gigantesca distração da realidade, da verdade; que os modismos, as modas que parecem tão urgentes e importantes, desaparecem rapidamente. Chesterton viajou pelo mundo para defender sua porta da frente e seu quintal. O coisa local é a coisa universal.

E ele também apontou que os santos mais universais também são os mais locais. Seus próprios nomes estão associados a um lugar. Francisco de Assis, Antônio de Pádua, Catarina de Sena. O culto de Chesterton, no entanto, acabou sendo tão local quanto o mundo inteiro. Somos confrontados com uma contradição. Ele é o patrono do paradoxo. E ele ressalta que, às vezes, a época é convertida pelo santo que mais a contradiz. Chesterton não apenas contradiz a época, ele fez muito para converter a época. A lista inclui alguns convertidos famosos de uma geração anterior: Mons. Ronald Knox, o crítico social Marshall McLuhan, o ator Alec Guinness, o historiador Christopher Dawson, o jornalista Malcolm Muggeridge, o escritor e esquiador Arnold Lunn, os filósofos Elizabeth Anscombe e Aurel Kolnai, os romancistas Evelyn Waugh, Graham Greene, Sigrid Undset e Frances Parkinson Keyes, os poetas Alice Meynell, Theodore Maynard e Alfred Noyes, E. F. Schumacher, de Small Is Beautiful, e John Moody, fundador do Wall Street Journal.  

Em nossa época, encontramos na lista nomes como o prolífico biógrafo Joseph Pearce, o filósofo Peter Kreeft , o estudioso Thomas Howard, o editor do First Things David Mills, a apresentadora de televisão Laura Ingraham, o escritor Stratford Caldecott, o ator Kevin O’Brien, o apologista Mark Shea, o escritor de ficção científica John C. Wright, o colunista do New York Times Ross Douthat, o teólogo de Notre Dame David Fagerberg, a autora infantil Regina Doman, o bispo James Conley, a ativista pró-vida Lila Rose, o produtor de filmes Jason Jones, o romancista best-seller Dean Koontz, o editor de Chronicles  Thomas Fleming, o ex-presidente da Sociedade Teológica Evangélica Francis Beckwith, o autor e psicólogo Kevin Vost e o Pe. Dwight Longenecker. Além disso, existem nomes que você nunca ouviu falar cujas histórias são dramáticas, pessoas que encontraram um amigo em Chesterton, que os ajudou a se recuperarem do divórcio, do aborto, da homossexualidade. Um homem saiu do ocultismo. Uma mulher da Espanha me disse: “Chesterton salvou minha vida”. Alguns vieram à Igreja por causa de seus escritos sobre distributismo. Alguns por causa do livro sobre Charles Dickens. Livros diferentes fizeram isso. Para alguns, uma citação foi o bastante. Existem centenas de nomes na lista, e ela apresenta uma variedade incrível de pessoas de todas as esferas da vida, todas as áreas, todas as diferentes denominações. A lista de convertidos inclui ex-muçulmanos, mórmons e, sim, judeus. Também estou na lista.

Há outro nome que aparece em uma lista diferente. C. S. Lewis. Embora ele nunca tenha se tornado católico, seu caminho do ateísmo ao cristianismo foi muito pavimentado por G. K. Chesterton. E foi porque C. S. Lewis não se tornou católico que tantas outras pessoas o fizeram. Eles começaram a ler Lewis, Lewis os levou a Chesterton e Chesterton os levou à Igreja Católica. Lewis avisou que ler Chesterton era perigoso. Todo cuidado era pouco.   

Chesterton aponta para a Verdade, e ele aponta as pessoas para a Verdade, mas faz isso com mais do que apenas bons argumentos. Ele é mais do que apenas um bom atirador. “Se um homem matasse sua avó a quinhentos metros, eu deveria chamá-lo de um bom atirador, mas não necessariamente de um bom homem.”9 (Se você reconhece essa linha, é provável que C. S. Lewis a tenha emprestado de Chesterton.) 

Chesterton era um bom homem. Ele poderia vencer os argumentos intelectuais, sim, mas o que acaba conquistando as pessoas é a sua bondade. De fato, é uma virtude heroica que a Igreja procura na avaliação da santidade. Mas a Igreja não precisa convencer ninguém que lê os livros dele de que a bondade de Chesterton de fato está muito presente nas palavras dele. Ela penetra nas páginas como um doce perfume.

No entanto, ele também foi um bom atirador. Seus alvos não eram avós, mas céticos, zombadores e modernistas que zombam da Fé ou deturpam a Fé ou a diluem. Ele os ataca com suas próprias armas. “O Cristianismo, mesmo quando diluído, é quente o suficiente para ferver toda a sociedade moderna.”10 Mas ele também apelou aos buscadores. Chesterton deu a eles o que estavam procurando. Ele lhes deu Deus.

Ele ganhou o respeito de amigos e inimigos que não compartilhavam de sua filosofia, mas foram tocados por sua bondade e caridade. Ele sabia como atacar más ideias sem atacar a pessoa que as mantinha. Ele fez isso mais reconhecidamente em seu tempo com H. G. Wells, um amigo que era, de todas as formas, um oponente, um grande descrente e um grande pecador, que disse que, se tivesse alguma chance de entrar no Céu, seria por ser amigo de G. K. Chesterton.  

Alguém dirá: Chesterton não era perfeito. Essa percepção abrasadora tira o fôlego. Como nos recuperamos de um golpe tão inesperado? Já me disseram que Chesterton não teria aprovado sua Causa de canonização. Mas ainda não encontrei um santo que tenha se oferecido para testemunhar a favor de si mesmo. Chesterton disse: “Um santo é apenas alguém que realmente sabe que é um pecador”.11 Talvez haja até esperança para o resto de nós.

Ele não é perfeito, como dito. No entanto, há uma completude nele. E a definição de perfeição é a completude. Sua vida, sua filosofia, suas palavras são partes de um todo. Embora as pessoas tentem escolher do que gostam e do que não gostam em Chesterton, descobrimos que todas as partes estão conectadas. Há uma integridade em sua santidade. Ele intrigantemente reflete, parte por parte, a completude das Escrituras Sagradas. Chesterton é bíblico no sentido mais amplo.

Comecemos com a glória da Criação. GKC nos dá uma profunda apreciação da origem de todas as coisas, da criatividade de Deus e da criatividade do artista, que é um ato semelhante a Deus. A Criação é uma história que aponta para o contador de histórias, uma obra de arte que aponta para o artista. Chesterton disse que a natureza é meramente o que os mais sábios de nós chamam de Criação,12 que a natureza não é nossa mãe, mas nossa irmã, pois temos o mesmo Pai.13 E o mais importante, ele diz que a Criação se amplia em todos nós, que toda vez que um bebê nasce é como se Deus tivesse criado um novo sol e uma nova lua, porque há um novo par de olhos para contemplar o Sol e a Lua. 14

Tudo é bom, mas a serpente entra no jardim. O diabo. O dragão. O pecado estraga tudo. Mas Chesterton o chamou de as boas-novas do Pecado Original. 15 O paradoxo. Assim como a maldição contém a promessa de redenção, o dragão nos dá a glória da batalha. Falar sobre Deus significa falar sobre pecado. O tema constante de Chesterton é “o que há de errado com o mundo”, e tudo se resume ao pecado. Pecado é o que há de errado com o mundo. Surpreendente, exceto pelo fato de que todos já sabem disso. “Os homens não acreditam no Pecado Original porque já acreditam no Livro de Gênesis. Eles estão prontos para acreditar no Livro de Gênesis porque já acreditam no Pecado Original.”16

A seguir, na Bíblia, vem a Lei. A ordem. Chesterton disse que é um homem comum porque acredita em ordem. Ele defende as regras porque a liberdade existe apenas dentro das regras. Doutrina e disciplina podem ser paredes, mas são as paredes de um playground.17 “Se você violar as leis fundamentais, não terá liberdade. Você nem sequer terá a anarquia. Você terá as leis mundanas.”18 Você terá uma sequência de meras convenções. Ele nos pediu para nos libertar dessas convenções e obedecer aos mandamentos.19

Após a história da Criação, a história da Queda e a história da Lei, vem a história das histórias. As batalhas, os romances, a guerra e a corte, os reis e as rainhas. Chesterton era um contador de histórias em uma escala épica comparável às Escrituras, com tipos de aventuras semelhantes, gestos dramáticos semelhantes e lições morais semelhantes. Sem moral, nenhum enredo faz sentido. Sem moral, nenhum enredo é sequer um enredo. Mas a História é um enredo.

O enredo favorito de Chesterton era o mistério, que é simplesmente o enredo que mantém nosso interesse, no qual mal podemos esperar para descobrir o que acontece a seguir. Existem dois tipos de mistério: o primeiro é o quebra-cabeça a ser resolvido e o segundo é a verdade grande demais para ser apreendida, mas não grande demais para ser contemplada. O enredo de Jó encarna ambos. “Os enigmas de Deus são mais satisfatórios que as soluções do homem.”20

Em seguida, vem a poesia dos Salmos, em que a linguagem muda para uma arte diferente e que expressa artisticamente todas as emoções possíveis conhecidas pelo homem, da exuberante alegria transbordante às profundezas do isolamento e da tristeza, do abandono ao perdão. Os Salmos, como toda boa poesia, são eternos. Chesterton estava sempre tentando falar em poesia. É mais impressionante, disse ele, tornar nossa prosa poética do que tornar nossa poesia prosaica. Ele estava sempre tentando alcançar o supremo e, como o salmista, atribuir esse feito às coisas celestiais do Senhor.

O machado cai sobre a madeira em baques, “Deus, Deus”.

O grito da torre, “Deus”, responde

O estalo do fogo na lareira, a voz do
riacho, dizem o mesmo nome;

Todas as coisas, cachorro, gato, rabeca, bebê,

Vento, disjuntor, mar, trovoada

Repetem em mil idiomas — Deus. 21

Respostas profundas sobre o profundo, na linguagem do louvor e do agradecimento:

Você dá graças antes das refeições.

Está certo.

Mas eu dou graças antes da peça e da ópera,

E dou graças antes do concerto e pantomima,

E dou graças antes de abrir um livro,

E dou graças antes de desenhar, pintar,

Nadar, esgrimir, boxear, passear, brincar, dançar;

E dou graças antes de mergulhar a caneta na tinta.22

Então vem a sabedoria dos Provérbios. Não apenas bons conselhos, mas pepitas de pura verdade e de verdade bendita. A sabedoria, os Provérbios nos dizem, é um deleite para Deus e para o homem. As ótimas frases de Chesterton são proverbiais e repetíveis, mas ele não apenas disse essas palavras para viver, mas sim para viver por elas. Aqui estão alguns provérbios chestertonianos:

“Uma boa caridade é certamente melhor do que uma crítica ruim”.23

“Uma palavra que nos diz o que não sabemos pesa mais que mil palavras que nos dizem o que já sabemos.”24

“Um homem nunca pode ser realmente infeliz se tiver conhecido algo pelo qual valha a pena ser infeliz. A tristeza e o pessimismo são de natureza oposta: a tristeza repousa sobre o valor de algo; o pessimismo, sobre o valor do nada.”25

“As coisas que os homens veem todos os dias são aquelas que eles nunca veem de verdade.”26

E aqui está a sabedoria para os debatedores, vinda de um debatedor mestre: “Discorde dos socialistas, se quiser. Não concorde com os anarquistas, se quiser. Ambos os hábitos, se exercidos com moderação, são bons para a saúde. Mas não perca a paciência, pois isso é sempre fatal para a instituição generosa e humana que chamamos de argumento”. 27

Quanto ao Eclesiastes, é tudo uma questão de saber o que importa e o que não importa. Há vaidade, e depois há a vaidade de vaidades: “Suponho que sou tão vaidoso quanto os outros homens; mas se eu tivesse minha vida para começar de novo, preferiria ser totalmente desconhecido, exceto para alguns amigos inteligentes, a ver meu nome espalhado pelos jornais no estilo particular dos heróis modernos da política, das finanças e do esporte”.28.

Depois, há o Cântico dos Cânticos. A poesia de amor de Chesterton é apaixonada, pura e sacramental.

Não como a minha [tristeza], minha alma é ungida, não como o meu rude e

[encantador

Riso fácil de muitos rostos, meu orgulho confiante de canção e de labor;

É algo mais estranho, algo mais doce, algo que espera por você além,

Secreto como seus sentidos quando tocados, mágico como suas tristezas também.

E com isso, a harpa celestial de Deus, esticada só mais uma vez para ser tocada,

O velho Tempo é um novato; a Vida, uma amadora; a Morte, uma desatilada.

Mas não terei medo de combiná-los entre si – não, por Deus, o medo não terá vindo,

Eu vou aprendê-los, eu vou tocá-los e as estrelas ficarão paradas ouvindo. 29

E nada se compara à carta que ele escreveu a Frances pouco antes de se casarem:

Gilbert Keith Chesterton… Veja até que ponto ele errou, e quão ocioso, esbanjador e perverso ele sempre foi: quão miseravelmente ele é incapaz de ser o que é chamado para ser. Que ele agora declare isso e para sempre mantenha sua paz.   

Mas há quatro lumes de ação de graças sempre diante dele. O primeiro é pela criação dele a partir da mesma terra que uma mulher como você. O segundo é que ele, com todas as suas falhas, não “perseguiu mulheres estranhas”. Você não pode imaginar como a autorrestrição de um homem é recompensada nisso. O terceiro é que ele tem tentado amar tudo que é vivo: uma provável preparação para amar você. E o quarto simplesmente é – mas nenhuma palavra pode expressar isso. Aqui termina minha existência anterior. Pegue-a: ela me levou até você.30

Então ele continuou se apaixonando por ela: “Acho que não é exagero dizer que nunca a vi em minha vida sem pensar que a subestimei no minuto anterior.” 31

A seguir, vêm as palavras dos profetas. Ronald Knox disse que Chesterton era um profeta na era dos falsos profetas. Todos os profetas o são. Assim ele [GKC] disse:

1902: “Estamos aprendendo a fazer muitas coisas inteligentes… a próxima coisa que teremos de aprender é a não fazê-las.”32.

1903: “Os homens em estado de decadência empregam profissionais para lutar por eles, profissionais para dançar por eles e um profissional para governá-los.” 33

1904: “Os hereges que defendem as manias sexuais nunca admitirão que são tudo menos castos”.34

1905: “Antes que a ideia Liberal seja morta ou triunfante, veremos guerras e perseguições como as que o mundo nunca viu”.35

1906: “No momento em que os homens começam a dizer: ‘Onde está o limiar?’, então não há nada diante de nós senão a decadência.”36.

1908: “Os homens que começam a lutar contra a Igreja em prol da liberdade e da humanidade terminam jogando fora a liberdade e a humanidade se ao menos puderem lutar contra a Igreja.”37.

1909: “Você pode falar de Deus como uma metáfora ou uma mistificação; você pode regá-lo com galões de palavras longas ou fervê-lo aos trapos da metafísica; e não é apenas que ninguém puna, mas ninguém protesta. Mas se você fala de Deus como um fato, uma coisa palpável como um tigre, como uma razão para mudar a conduta de alguém, o mundo moderno irá impedi-lo de alguma forma, se puder.”38.

1910: “A higiene pode, a qualquer dia, impor o hábito pagão da cremação.”39.

1912: “Aqueles que falam de ‘tolerar todas as opiniões’ são fanáticos muito provinciais que conhecem apenas uma opinião.”40.

1913: “Cada sexo está tentando ser ambos os sexos ao mesmo tempo; e o resultado é uma confusão mais falsa do que qualquer convenção.” 41.

1914: “A exceção se tornou a regra e essa é a pior de todas as tiranias possíveis”.42.

1916: “O casamento será chamado de fracasso onde quer que ele seja um sofrimento.”43

1920: “O efeito óbvio do divórcio frívolo será o casamento frívolo.”44

1920: “Se o policial regula a bebida, por que ele não deveria regular o fumo e depois o sono e depois a fala e depois a respiração?”45

1923: “A posição que alcançamos agora é a seguinte: partindo do Estado, tentamos remediar os fracassos de todas as famílias, todos os berçários, todas as escolas, todas as oficinas, todas as instituições secundárias que antes possuíam alguma autoridade própria. Tudo deve finalmente ser levado aos tribunais.”46.

1925: “Uma vasta máquina que usa eletricidade, energia da água, gasolina etc. poderia reduzir ao mínimo o trabalho imposto a cada um de nós. A máquina seria nosso mestre.”47

1926: “A próxima grande heresia será simplesmente um ataque à moralidade: e especialmente à moralidade sexual… A loucura do amanhã não está em Moscou, mas muito mais em Manhattan.”48.

1928: “Toda adição ao nosso luxo significará uma perda para nossas liberdades.”49.

1929: “Todo o sistema estrutural da civilização suburbana baseia-se no caso de ter banheiros e no caso de não ter bebês”.50.

1930: “O materialismo moderno é solene sobre o esporte porque não tem outros ritos para solenizar”.51

1932: “Já estamos vagando horrivelmente perto de uma nova guerra, que provavelmente começará na fronteira com a Polônia”.52

1933: “A próxima guerra será a mais horrível de todas as guerras.”53

1933: “A China é o único rival real da cristandade.”54

1935: “Espalhou-se sobre a nossa vida social uma curiosa atmosfera de desperdício; talvez melhor simbolizada por um alto-falante despejando uma enxurrada de música de uma loja vazia para uma rua vazia.”55

1936: “Pairam no horizonte flagelos flagrantes de esterilização ou higiene social aplicados a todos e impostos por ninguém”.56.

Suas profecias são impressionantes e preocupantes por sua precisão. Mas também encorajadoras. Toda profecia é um chamado ao arrependimento e, portanto, uma mensagem de esperança. As coisas não precisam terminar assim. Isso remonta à doutrina da alegria condicional. É uma afirmação de livre-arbítrio. Chesterton disse: “O melhor tipo de profecia é dizer, não o que ocorrerá, mas o que deve ocorrer”.57 E, como um verdadeiro profeta, ele nos diz para não olhar para o futuro, mas para o passado. Como Jeremias nos diz: “Ficai à beira das estradas, olhai e perguntai pelos caminhos antigos, onde está o bom caminho; e andai nele, e encontrai descanso para as vossas almas”( Jr 6:16). Chesterton oferece um corolário sobre o que acontece se não perguntarmos pelo caminho antigo, se não procurarmos onde está o bom caminho: “Se você esquecer as coisas longínquas, seus filhos e netos se lembrarão delas e se levantarão contra vocês.”58.

Depois vem o evangelista, o portador das Boas-Novas. Chesterton começa endereçando aos críticos textuais e os revisores: “Declarem antes de tudo o que Jesus disse, não o que vocês acham que Ele teria dito se tivesse se expressado com mais clareza”.59 O mundo não pode aceitar as Boas-Novas, diz ele, porque pensam que são boas demais para ser verdade. Não podemos lidar com a liberdade de Deus, que é milagrosa, e a liberdade do homem, que é responsabilidade. Não podemos lidar com um Deus que é capaz de se deixar morrer, e com um homem que é capaz de ressuscitar dentre os mortos.

No terceiro dia, os amigos de Cristo que chegaram ao amanhecer encontraram o túmulo vazio e a pedra removida. De várias maneiras, eles perceberam a nova maravilha; mas nem eles perceberam que o mundo havia morrido durante a noite. O que eles estavam olhando era o primeiro dia de uma nova criação, com um novo Céu e uma nova terra; e, sob a aparência do jardineiro, Deus voltou a andar no jardim, no frio não da tarde, mas no amanhecer. 60

Essa é a história que é diferente de qualquer outra. Chesterton diz que a religião do mundo não é dividida em “finas sombras do misticismo” ou outras divisões de acordo com o desenvolvimento de ideias históricas e filosóficas sobre o divino. Está dividida entre aqueles que estão trazendo a mensagem do Evangelho e aqueles que ainda não a ouviram, ou ainda não podem acreditar nela. 61

Então, o apóstolo. Os ensaios de Chesterton são cartas ao mundo, epístolas do senso comum. São Paulo diz, em um paradoxo semelhante a Chesterton: “Quando estou fraco, então estou forte” (2 Cor 12:10). Em uma exortação semelhante, GKC diz: “A única coisa perfeitamente divina, o único vislumbre do paraíso de Deus na terra, é travar uma batalha perdida—e não perdê-la.”62 Seus preceitos também são como as pérolas de Paulo. Mais palavras para vivenciar, em prosa e verso: 

“Beba porque você é feliz, nunca porque você é infeliz.”63.

“Não esqueça o Deus real ou o mundo real.”64

“O que devemos fazer? Manter nossos ânimos sob controle, principalmente. E depois disso, olhar a situação de frente e pensar.”65

“Vamos amar a misericórdia e andar humildemente.”66.

Finalmente, outro grande mistério: o fim do mundo. Chesterton nos diz, antes de tudo, que não devemos supor que o fim de nossa era é o fim do mundo, simplesmente porque é o fim de nós. Mas, em segundo lugar, ele nos diz que realmente há um fim do mundo no sentido de que o mundo tem um objetivo, um objetivo final. E terceiro e, finalmente, há um finalmente. Haverá um fim do mundo. “O fim do mundo é mais atual do que o mundo que ele finaliza.”67 Esse fim poderia estar perto, poderia estar distante. “O homem pode permanecer na Terra geração após geração, e ainda assim cada nascimento é sua última aparição positiva.”68 No fim do mundo, não apenas finalmente enfrentaremos Deus, como realmente enfrentaremos um ao outro.

Nós seguimos os pés dos que andam

Para onde todas as almas se encontram

A pousada próxima ao fim do mundo. 69

Chesterton diz que a Igreja Católica é um playground70 Ele também diz que o Céu é um playground.71 Certamente deveria haver esse tipo de continuidade.

O caminho para a santidade leva à beatificação. Seria bom salientar as bem-aventuranças: Bem-aventurados os pobres de espírito, bem-aventurados os que choram, abençoados são os mansos, abençoados são os que têm fome e sede de justiça, bem-aventurados os misericordiosos, bem-aventurados os puros de coração, bem-aventurados os pacificadores, bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça. Essas são todas descrições aplicáveis a G. K. Chesterton. Não é difícil afirmar que ele simboliza cada uma das bem-aventuranças com sua humildade, sua simpatia, sua bondade, sua sede de justiça, sua caridade com seus inimigos, sua pureza e bondade e sua paciência com os que o atacaram, mas ele também deu seu próprio toque pessoal à bênção: “Bem-aventurado aquele que não espera nada, pois será gloriosamente surpreendido”.72

Um de seus colegas jornalistas, William Titterton, escreveu a primeira biografia de Chesterton e, na conclusão, expressou a esperança de que a Igreja tornasse Chesterton um santo: “Ele estava sempre pensando em Deus”.73 Outro jornalista, J. C. Squire, disse que Chesterton “vê constantemente o eterno por trás do temporário”. E o santo Padre Vincent McNabb disse: 

Era difícil falar com Gilbert Chesterton e não pensar—assim como não pensar em Deus. Até o ateu que falou com ele, e que teria desprezado o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, o Deus de Jacó, sentiu que gostaria de saber sobre o Deus de Gilbert Chesterton—esse Deus a quem as próprias risadas de Gilbert Chesterton parecia provar que era um ser humano adorável, embora transcendente…74

Theodore Maynard foi um poeta e ensaísta que contribuiu com trabalhos para a New Witness G. K.’s Weekly. Ele disse que Chesterton “mais do que qualquer outro homem moldou minha vida”. Um católico convertido pela influência de Chesterton (e do distributismo), Maynard também disse que GKC “foi um dos piores editores da história do jornalismo”, mas modera essa avaliação com: “Ninguém… pode, por um momento, suspeitar de que desejo menosprezar um homem a quem sempre considerarei não apenas a inteligência mais luminosa que já encontrei, mas também um santo.”75

May Bateman visitou o Top Meadow em 1927 para escrever sobre a casa. Ela a descreveu como “chestertoniana” e depois acabou escrevendo mais sobre seu proprietário e principal ocupante. Ela o descreveu como “um cavaleiro convencional de armadura brilhante, subindo uma trilha íngreme e estreita, cercada de dragões e temíveis bestas apócrifas com línguas de fogo e escamas brilhantes… que nem sabia que os monstros estavam ao seu redor porque seus olhos estavam tão firmemente fixos em seu objetivo no céu.”76

Ela o vê atravessar Beaconsfield, seguido de mendigos. “A luz diante dele nunca o cega à presença, na beira da estrada, de uma criatura que talvez precise de sua ajuda; mas sim o leva adiante, sem aviso prévio, a despeito dos cuidados mundanos que assolam a maior parte da humanidade.”77

Ela continua:

Ele é… incrivelmente modesto… com uma mente humilde inata, ele é uma criança completa no sentido bíblico do Evangelho. Ele é grande o suficiente para saber que é preciso tornar-se muito pequeno antes de poder entrar pelos portões do Céu. Eventos externos não podem mudá-lo. Se ele se tornasse amanhã o Mussolini do Império Britânico, estou convencida de que ele seria tão simplório e sincero como é hoje, pronto para autografar o livro que algum jovem funcionário bancário desconhecido lhe tenha enviado; levantaria-se, por mais cansado que estivesse, para levar Quoodle para passear, por nenhuma razão melhor do que o fato de achar que seu cachorro parece entediado e apático; daria tempo e atenção a algum estranho que aborreceria copiosamente outro homem; em resumo, pensaria nos outros e não nele mesmo.      

A diferença entre ele e a maioria de nós é que ele realmente vive pela fé. A agitação do espírito é tão necessária para ele quanto o ar que respira. Sua visão é fixa e o catolicismo é a essência de seu ser, movendo-o e dirigindo-o por sua esperança imortal e sua inspiração, reconhecidas por ele pelo que são, a única visão que se abre para um mundo infinto.78

São Thomas More foi canonizado durante a vida de G. K. Chesterton. Antes da canonização, Chesterton disse, em 1929, que More era importante porque ele não apenas defendia a Igreja contra o Estado, mas defendia a família contra o Estado.79 À luz dos problemas que assolavam tanto a Igreja quanto a família no tempo de Chesterton, ele disse que More era mais importante àquela altura do que ele mesmo em seu próprio tempo, e ele seria mais importante no futuro do que era nos dias de Chesterton. Eu argumentaria que o mesmo poderia ser dito de G. K. Chesterton. Ele também defendeu a Igreja contra o Estado e defendeu a família contra o Estado. E ele é mais importante agora do que quando vivia. Será ainda mais importante no futuro do que é agora. Mas, mesmo que ele seja mais importante no futuro, espero que a Igreja não demore tanto tempo para canonizar Chesterton como fez com Thomas More. 

Não podemos deixar de admirá-lo, mas quando admiramos Chesterton e seu grande gênio e seus enormes talentos criativos, estamos agradecendo os dons de Deus, os dons de Deus a Chesterton, os dons de Deus a nós por meio de Chesterton. Tudo aponta para Deus. E é isso que os santos fazem: eles nos apontam para Deus.

1 “The War on Holidays,” Utopia of Usurers
2 “At Overroads Door,” Return to Chesterton (Maisie Ward)
3 “A Christmas Carol,” Collected Poetry
4 William Blake
5 “The Maniac,” Orthodoxy
6 “Serious but Never Solemn,” Return to Chesterton (Maisie Ward)
7 Ibid.
8 “The Real Life of St. Thomas,” St. Thomas Aquinas
9 New York American, February 3, 1934
10 “The Eternal Revolution,” Orthodoxy
11 Daily News, September 24, 1910
12 G. K.’s Weekly, October 25, 1930
13 “The Eternal Revolution,” Orthodoxy
14 “Two Voices,” The Napoleon of Notting Hill
15 “The World St. Francis Found,” St. Francis of Assisi
16 Illustrated London News, September 18, 1920
17 “The Eternal Revolution,” Orthodoxy
18 Daily News, January 25, 1905
19 “The Wild Weddings—or The Polygamy Charge,” Manalive
20 “The Book of Job,” G. K. C. as M.C.
21 “The Notebook,” Gilbert Keith Chesterton (Maisie Ward)
22 Ibid.
23 Daily News, March 1, 1901
24 “The Exception Proves the Rule,” The Catholic Church and
Conversion
25 “Tennyson,” A Handful of Authors
26 Daily News, June 18, 1904
27 Illustrated London News, February 21, 1914
28 G. K.’s Weekly, August 8, 1935
29 “The Strange Music,” Collected Poetry
30 “A Long Engagement,” Gilbert Keith Chesterton (Maisie Ward)
31 “Portrait of a Young Man in Love,” Return to Chesterton (Maisie
Ward)
32 “Queen Victoria,” Varied Types
33 “Charles II,” Twelve Types
34 Daily News, September 5, 1904
35 Daily News, February 18, 1905
36 Daily News, November 17, 1906
37 “The Romance of Orthodoxy,” Orthodoxy
38 “The Philosopher,” George Bernard Shaw
39 Dublin Review, October 1910
40 Illustrated London News, February 24, 1912
41 “The Great Victorian Novelists,” Victorian Age in Literature
42 Illustrated London News, November 21, 1914
43 Divorce vs. Democracy (Pamphlet)
44 “The Vista of Divorce,” The Superstition of Divorce
45 Illustrated London News, June 5, 1920
46 Illustrated London News, March 24, 1923
47 Illustrated London News, March 21, 1925
48 G. K.’s Weekly, June 19, 1926
49 Illustrated London News, February 4, 1928
50 G. K.’s Weekly, July 6, 1929
51 Illustrated London News, November 15, 1930
52 Illustrated London News, September 24, 1932
53 Illustrated London News, December, 2 1933
54 New York American, June 3, 1933
55 New York American, February 9, 1935
56 “How to Be a Dunce,” Autobiography
57 Manchester Guardian, January 21, 1907
58 The Listener, February 6, 1935
59 “Tolstoy,” Varied Types
60 “The Strangest Story in the World,” The Everlasting Man
61 “Conclusion,” The Everlasting Man
62 Act II, Time’s Abstract and Brief Chronicle
63 “Omar and the Sacred Vine,” Heretics
64 Act 1, Sc. 1, The Surprise
65 “The Face of Brass” (Collected Works, Vol. 14)
66 “The Notebook,” Gilbert Keith Chesterton (Maisie Ward)
67 “The Last Parley,” The Ball and the Cross
68 “The Ethics of Elfland,” Orthodoxy
69 “A Child of the Snows,” Collected Poetry
70 “Authority and the Adventurer,” Orthodoxy
71 Illustrated London News, August 17, 1907
72 “Le Jongleur de Dieu,” St. Francis of Assisi
73 G. K. Chesterton: A Portrait (Titterton)
74 “Vincent McNabb,” Gilbert! April-May, 2005
75 The World I Saw (Maynard)
76 Extension Magazine, January 1927
77 Ibid.
78 Ibid.
79 “St. Thomas More,” The Well and the Shadows

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