Beato G. K. Chesterton? – Por Paolo Gulisano



 – A seguir a entrevista de Antonio Gaspar com Paolo Gulisano, autor italiano da primeira biografia de G. K. Chesterton em língua italiana, intitulada Chesterton & Belloc: Apologia e Profezia, sobre a possível beatificação de G. K. Chesterton, que foi publicada no dia 14 de julho de 2009 pela Zenit e traduzida por Kathleen Naab.

Gilbert Keith Chesterton (1874-1936) é mais conhecido por sua escrita hábil e bem humorada, e seus provocantes paradoxos. Mas ele pode também se tornar conhecido como um santo, se a proposta para lançar sua causa de beatificação seguir adiante. A ZENIT falou com Paolo Gulisano, autor da primeira biografia escrita em língua italiana do grande escritor Inglês, Chesterton & Belloc: Apologia e Profezia, (Edizioni Ancora) sobre as origens dessa proposta. Aqui, Gulisano explica por que Chesterton pode merecer reconhecimento como santo.

ZENITQuem está promovendo essa causa de beatificação?

Gulisano: A associação cultural dedicada a ele, a Chesterton Society, fundada na Inglaterra em 1974, na ocasião do centenário do nascimento do grande autor, com a ideia de divulgar a obra, pensamento e figura dessa personalidade extraordinária. De lá para cá, vem sendo falado da possível causa de sua beatificação e, poucos dias atrás, durante uma conferência internacional organizada pela Oxford sobre “The Holiness Of G. K. Chesterton” (A Santidade de G. K. Chesterton) – com a participação dos melhores expoentes no campo de estudo de Chesterton – foi decidido seguir em frente com essa proposta.

ZENITPor que uma beatificação?

Gulisano: Muitas pessoas reconhecem que há uma evidência clara da santidade de Chesterton: testemunhos sobre ele falam de uma pessoa de grande bondade e humildade, um homem sem inimigos, que propôs a fé sem pedantismo mas também sem confronto, um defensor da Verdade e da Caridade. Sua grandeza é também um fato, ele sabia como apresentar o Cristianismo ao grande público, feito por cristãos e pessoas leigas. Seus livros, de Ortodoxia São Francisco de Assis, do Padre Brown até A Esfera e a Cruz, são brilhantes apresentações da fé cristã, testemunhada com claridade e valor ante o mundo. De acordo com as antigas categorias da Igreja, poderíamos definir Chesterton como um “confessor da fé”. Ele não era apenas uma apologista, mas também um tipo de profeta que vislumbrou a frente do seu tempo o caráter dramático das questões modernas como a eugenia. O dominicano inglês Aidan Nichols sustenta que Chesterton deve ser visto como nada menos do que um possível “pai da Igreja” do século vinte.

ZENITQuais são suas virtudes heróicas?

Gulisano: Fé, esperança e caridade. Essas eram as virtudes fundamentais de Chesterton. Além disso, ele era inocente, simples e profundamente humilde. Embora tenha pessoalmente experimentado a dor, ele era um corista da alegria cristã. As palavras de Chesterton são um tipo de remédio para a alma, ou melhor, pode ser mais precisamente definido como antídoto. O próprio escritor tem, de fato, usado a metáfora do antídoto para definir o efeito da santidade no mundo: o santo tem o objetivo de ser sinal de contradição e restaurar a sanidade mental num mundo indo à loucura.

ZENITQual a contribuição cultural, literária e moral que Chesterton deixou à Sociedade Britânica e ao Cristianismo?

Gulisano: Quando o Papa Pio XI foi informado sobre a morte do grande escritor, ele enviou um telegrama de condolências através de seu secretário de estado, o Cardeal Eugenio Pacelli. No telegrama, ele lamentou a perda de um “filho devoto da Santa Igreja, grande defensor dos tesouros da fé Católica”. Essa foi a segunda vez na história que um Pontífice atribuiu o título de “Defensor da Fé” a um inglês. Talvez o secretário de estado não tenha percebido o paralelo irônico que teria provocado em Gilbert uma de suas gargalhadas proverbiais – pois o outro inglês era Henrique VIII, o homem que infligiu na Igreja da Inglaterra sua mais grave e profunda ferida. Chesterton tentou novamente trazer a Inglaterra, e também o mundo, para perto de Deus, da fé e da razão.

ZENITQual é a sua opinião sobre tudo isso?

Gulisano: Ler Chesterton, seja suas ficções ou ensaios, sempre deixa o leitor com grande serenidade e senso de esperança, que certamente não vem de uma imatura e mundana visão otimista da vida – que realmente não poderia estar mais longe do pensamento de Chesterton, ele que cuidadosamente denunciou toda a aberração da modernidade – mas sim de uma concepção cristã, a força viril da experiência religiosa. A proposta de Chesterton é tratar toda a realidade seriamente, começando com a realidade interior do homem, e confidencialmente fazendo uso do intelecto, isso é, do senso comum, em sua sanidade original, purificada de toda incrustação ideológica. Alguém raramente lê páginas de discursos de fé, conversação e doutrina que são tão claras e incisivas, enquanto se livra de todo excesso sentimental ou moralista. Isso vem de Chesterton, de sua atenta leitura da realidade. Ele sabia que a mais prejudicial consequência da descristianização não tem sido o grave desvio ético, mas o desvio da razão, sintetizado nessa crítica dele: o mundo moderno sofre uma queda mental muito maior do que a moral. De cara com esta realidade, Chesterton escolheu o Catolicismo, e afirmou que há pelo menos dez mil razões para justificar essa escolha, cada uma delas válida e bem fundada, mas capaz de ser resumida em uma só: que o Catolicismo é verdadeiro. A responsabilidade e o serviço da Igreja então consiste nisso: na coragem de acreditar, em primeiro lugar, e então denunciar os caminhos que levam ao nada ou à destruição, a uma parede cega ou ao preconceito. Um trabalho santo, sem dúvida, e a santidade de G. K. Chesterton, que eu espero que a Igreja reconheça, já brilha e ilumina o mundo.

Traduzido por André Garcia

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