- O seguinte trecho foi extraído de Joseph Pieper, Guia de Santo Tomás de Aquino, traduzido por Richard e Clara Winston (Random House: Nova Iorque, 1962), pág. 7-9.
A melhor introdução ao espírito de Santo Tomás de Aquino (1225-1274) é, a meu ver, o pequeno livro de G. K. Chesterton (1874-1936), intitulado Santo Tomás de Aquino. Este não é um trabalho acadêmico no sentido próprio da palavra; pode ser chamado de jornalístico – razão pela qual sou um pouco cauteloso em recomendá-lo. Maisie Ward, co-proprietária da editora British-American que publicou o livro, escreve em sua biografia de Chesterton que na época que sua empresa o publicou, ela foi tomada por uma leve ansiedade. Entretanto, ela continua dizendo que Étienne Gilson (1884-1978) leu e comentou: “Chesterton faz a gente se desesperar. Eu venho estudando Santo Tomás a minha vida inteira e eu jamais poderia ter escrito tal livro”. Ainda incomodada com a ambiguidade deste comentário, Maisie Ward questionou Gilson uma vez mais sobre o seu veredito do livro de Chesterton. Desta vez ele se expressou em termos inconfundíveis: “Eu o considero como sendo, sem comparação possível, o melhor livro já escrito sobre Santo Tomás… Todos irão admitir sem dúvidas de que é um livro ‘engenhoso’, mas os poucos leitores que gastaram vinte ou trinta anos estudando Santo Tomás de Aquino, e que, porventura, tenham publicado dois ou três volumes sobre o assunto, não podem falhar em perceber que a chamada ‘wit’¹ de Chesterton envergonhou a erudição deles… Ele disse tudo o que eles mais ou menos desajeitadamente tentaram expressar em fórmulas acadêmicas”.
Assim disse Gilson. Acho esse elogio um tanto exagerado; mas, de qualquer maneira, não preciso sentir um grande constrangimento em recomendar um livro “não erudito”.
Não adiantaria depender unicamente de Chesterton, mesmo para uma introdução. Eu recomendo, portanto, por sua abordagem mais profissional, o livro Santo Tomás de Aquino – Personalidade e Pensamento: Uma Introdução do Padre Martin Grabmann (1875-1849) traduzido em inúmeras edições desde 1912. Grabmann (falecido em 1949 em Munique) é conhecido e estimado mundialmente como mestre pesquisador da Escolástica; seu livro tem aquele mérito muito especial que é obtido somente quando um erudito que conhece o material das fontes originais em seus mínimos detalhes, e que desvendou a maior parte por si mesmo essas fontes, escreve um resumo para os não especialistas. Eu o indico, pois Grabmann oculta sua profunda erudição atrás de uma apresentação absolutamente simples.
Um estudo mais moderno é o esplêndido, profundo e brilhantemente escrito Introdução ao Estudo de Santo Tomás de Aquino de Marie-Dominique Chenu (1895-1990). Chenu divide seu livro em duas partes, a primeira lidando com “a obra” e a segunda com “as obras”. Acho que é possível dizer que até o presente momento não existe uma melhor introdução histórica e sistemática de Santo Tomás.
Por último, gostaria de mencionar a mais abrangente e ambiciosa exposição da filosofia de Santo Tomás de Étienne Gilson: O Tomismo, Introdução à Filosofia de Santo Tomás. Uma edição revisada desta obra foi publicada recentemente em inglês sob o título A Filosofia Cristã de Santo Tomas de Aquino (The Christian Philosophy of St. Thomas Aquinas, em inglês).
Os livros de Chenu e Gilson possuem, aliás, uma característica em comum que à primeira vista pode parecer acidental. Os autores de ambos os livros são franceses (Chenu um Dominicano; Gilson, um leigo, originalmente professor no Collège de France em Paris), porém ambos lecionaram durante muitos anos no Novo Mundo, ou seja, no Canadá. Ambos os livros foram produzidos na atmosfera muito especial daquele jovem continente que me parece mais do que acidental. Ao ler essas obras, eu senti o sopro dos ventos frescos da América do Norte – com o que quero dizer algo mais preciso: uma certa objetividade e seriedade, a determinação por parte dos autores de irem além da mera erudição e de perguntar e responder à questão da verdade das coisas.
1 – Sagacidade com um humor brilhante.
Traduzido por Rodrigo de Jesus Santana.
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