Somos católicos conservadores (?), sermão do Padre Ivan Chudzik, IBP

Sermão para o VII Domingo Depois de Pentecostes, feito pelo Padre Ivan Chudzik, IBP, em 24/07/22, na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, em Belém do Pará.


Guardai-vos dos falsos profetas. Eles vêm a vós disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos arrebatadores. É o que ouvimos de nosso senhor no evangelho deste sétimo domingo após Pentecostes. De fato, caros fiéis, a Igreja de Jesus Cristo sempre foi atacada por lobos. E por isso nosso senhor instituiu o sacerdócio e a hierarquia eclesiástica. Para que o rebanho fosse provido de pastores. Então, todo o sucesso ou todo o fracasso da ação dos lobos, que são os inimigos da Igreja, depende da fidelidade dos pastores. Se os pastores são fiéis, se os pastores são vigilantes, se os pastores defendem o rebanho, ainda que à custa da própria vida, as ovelhas estarão salvas, e os lobos longe do rebanho. Por outro lado, se os pastores são infiéis, se eles dormem ao invés de vigiar. E se eles defendem mais os seus próprios interesses ao invés de defender o bem do rebanho, então os lobos entram sem dificuldade e causam um grande estrago, porque o rebanho está vulnerável. Isso quer dizer, caros fiéis, que quando os lobos se multiplicam e invadem o rebanho com facilidade, é porque os pastores não estão cumprindo bem a sua missão. A facilidade da ação dos lobos é devido à infidelidade dos pastores. E quando os pastores são infiéis não há necessidade para disfarces, os lobos não precisam se disfarçar de ovelhas para invadir um rebanho. Se os pastores dormem ao invés de vigiar. Então, esse é o argumento, caros fiéis, quando os pastores dormem e negligenciam gravemente os seus deveres, o mal é manifesto. O mal não necessita de muitos disfarces, porque as ovelhas estão expostas ao mal, sem nenhuma defesa. Por outro lado, se os pastores são fiéis e vigiam o rebanho, o único recurso para os lobos são os disfarces. É preciso disfarçar-se de ovelha para entrar no rebanho. O que significa, nesse caso, que a ação dos lobos será sutil. Será sorrateira. E exigirá uma maior vigilância, um maior zelo por parte dos pastores.


Essas reflexões nos são muito necessárias, caro fiéis, porque nós cremos, muitas vezes, que nós frequentamos ambientes que estão isentos de erros. Nós cremos ingenuamente que os nossos ambientes, que os nossos apostolados estão isentos de erros, isentos de problemas em matéria de fé, de moral e mesmo de liturgia. Pois não sejamos tão ingênuos, caros fiéis. Os lobos também estão entre nós, mas disfarçados de ovelhas, porque onde os pastores são fiéis ao ensinamento da Igreja, e onde eles vigiam o rebanho, pelo zelo das almas, os lobos não podem entrar a não ser disfarçados de ovelhas, o que significa que nos nossos ambientes, a ação do demônio por meio dos inimigos da Igreja será, de preferência, uma ação sutil, uma ação sorrateira. E a primeira estratégia do demônio no rebanho que ele pretende atacar, a primeira estratégia, caros fiéis, consiste em convencer-nos que o único mal que nos ameaça é um mal manifesto. O mal escancarado. O mal que é reconhecido por todos como um mal. Para o demônio, é muito mais eficaz que os católicos só sejam capazes de reconhecer o mal manifesto e nada além dele. E nesse sentido, caros fiéis, nós precisamos admitir algo muito necessário. Ainda que isso cause algum estranhamento em nós. Pois nós precisamos admitir que esse levante, que essa reação em peso dos católicos contra a Teologia da Libertação não trouxe apenas benefícios, trouxe também malefícios. Porque para muitos católicos, parece que o único mal na Igreja atualmente é a Teologia da Libertação. Parece, aliás, que não há outros erros e outros problemas muito mais graves do que a dita Teologia da Libertação. Portanto, é uma ingenuidade julgar que toda a Crise atual se explica unicamente pela Teologia da Libertação. Porque essa falsa teologia é muito mais uma consequência dos falsos princípios do que a causa. Trata-se, na verdade, de um erro grosseiro. Ou seja, um erro manifesto que não necessita de grande esforço para ser reconhecido por católicos que cultivam a vida de oração. Isso quer dizer, caros fiéis, que uma reação exacerbada contra um erro grosseiro e manifesto pode perfeitamente servir nas mãos do demônio, como uma espécie de cortina de fumaça. Para que os católicos devotos não percebam outros erros muito mais sutis e muito mais sorrateiros, nos quais eles mesmos poderiam cair. E o motivo é muito simples. Para o demônio, pouco importa com qual erro ele irá enganar e desviar os católicos devotos. Porque enquanto a verdade é uma só e sempre a mesma, o demônio pode nos enganar com inúmeras mentiras. Afinal, caros fiéis, o demônio não é pai de uma única mentira, mas de todas as mentiras, de todos os erros e todas as heresias. Se ele não enganar as almas com esse erro, ele pode enganá-las com aquele outro e assim por diante. Então, é por isso que uma reação exacerbada contra um erro pode perfeitamente servir nas mãos do demônio, como uma espécie de cortina de fumaça para que os católicos devotos não percebam outros erros muito mais sutis e muito mais sorrateiros.


Mas nada disso seria grave se a Fé não fosse uma virtude íntegra. E esse é o princípio mais importante que devemos aprender. A Fé é uma virtude íntegra. Ninguém pode crer na doutrina da Igreja por aproximação. Ou seja, ninguém pode aceitar um dogma e rejeitar o outro. Ninguém pode aderir a um dogma e pôr em dúvida o outro. Ainda que algumas Almas tenham uma grande fé, ou seja, uma fé mais intensa, e outras almas têm uma fé pequena, uma fé menos intensa. De todo modo, as almas que têm Fé crêem em tudo o que a Igreja ensina, sem exceção. Agora, não é possível crer de maneira aproximativa. Porque ou se crê em tudo ou não se crê em nada. E como esse é um ponto fundamentalíssimo da nossa Santa religião Católica, agora nos resta apenas saber porquê a Fé é uma virtude íntegra. Porque o fundamento da nossa Fé é a autoridade de Deus que Se revela. Então esse é o fundamento da nossa Fé: a autoridade de Deus, que Se revela. De fato, caros fiéis, Deus nosso senhor, não pode Se enganar e nem nos enganar. Deus é a Verdade. E diz apenas a verdade. Portanto, se é o próprio Deus que nos revela as verdades sobrenaturais, e se a Igreja é apenas a depositária, ou seja, guardiã das verdades reveladas, então quem duvida deliberadamente de um dogma de Fé, ou seja, quem hesita, quem questiona e quem rejeita um único dogma de Fé, na verdade põe em dúvida todo o conjunto da Revelação cristã. O que não faz sentido crer em partes na autoridade de Deus que Se revela. Ou se crê em tudo, ou não se crê em nada. Ou Deus diz sempre a verdade, ou ele não diz a verdade, e não faz sentido crer em mais nada. Isso tudo quer dizer, caros fiéis, que aquele indivíduo que pratica a Fé católica por aproximação, ou seja, ele crê em muitos dogmas, mas não em todos. Há um ou outro que ele não crê, que ele rejeita deliberadamente, esse indivíduo não pode se dizer católico, porque no fundo da questão ele crê apenas em si mesmo. Ele crê apenas na sua própria autoridade, porque ele se julga no direito de submeter a doutrina da Igreja ao seu próprio crivo, à sua própria autoridade. Então isso explica claramente porque a Fé é uma virtude íntegra. Ou se crê em tudo, ou não se crê em nada. Ou se aceita a autoridade de Deus que Se revela em tudo o que a Igreja ensina, ou não se aceita a autoridade de Deus que Se revela, e nesse caso o indivíduo crê apenas em si mesmo. E como por graça e misericórdia de Deus, nós somos católicos, nós não podemos cair nessa perigosa tentação de praticar uma fé aproximativa. Porque ainda que um indivíduo aceite muitos dogmas, a maioria dos dogmas, se ele rejeitar deliberadamente um único dogma, isso já é suficiente para arruinar todo o fundamento da Fé. Então, nós que somos católicos, não podemos de modo algum permitir que a nossa Fé seja aproximativa. Por outro lado, caros fiéis, ainda que nós sejamos zelosos com relação a nós mesmos, ainda que nós professemos a Fé da Igreja integralmente, sem duvidar de nenhum dogma de fé, o demônio usa contra nós dos erros mais grosseiros, para convencer-nos de que nós podemos e inclusive nós devemos colaborar com aqueles erros que se parecem muito com a Fé Católica. E essa é uma péssima mentalidade, muito difundida, sobretudo entre os bons católicos, ou seja, aqueles católicos que cultivam a vida de oração e costumam se instruir na doutrina da Igreja. Então, na prática, caro fiéis, muitos católicos julgam que para se combater, por exemplo, a Teologia da Libertação, nós podemos e inclusive nós devemos nos associar com erros aparentemente menos perigosos, com aqueles erros que se parecem muito com a Fé católica, que estão mais próximos da Fé íntegra. E assim nós assistimos a tragédia de católicos que apesar da sua Fé, pouco a pouco, cai em teses liberais, em teses contrárias à Doutrina Social da Igreja, contrárias ao Magistério da Igreja, sob o pretexto de combate ao comunismo ou de combate à dita Teologia da Libertação. Mas tudo isso se deve a uma armadilha do demônio que nós já conhecemos. É do interesse e da utilidade do demônio que os católicos tenham uma reação exacerbada contra um erro, sobretudo se esse erro for grosseiro e manifesto, porque isso serve como uma espécie de cortina de fumaça que esconde os erros mais sutis, que esconde os erros mais sorrateiros. E como a Fé é uma virtude íntegra, pouco importa para o demônio, se uma alma se perdeu por causa da Teologia da Libertação ou por causa de qualquer outro erro mais sutil. No fundo, caros fiéis, o que realmente importa ao demônio é que nós estejamos enganados, pouco importa como. É por esse motivo que São Paulo diz: “mas ainda que alguém, nós ou um anjo baixado do céu, vos anunciasse um Evangelho diferente do que vos temos anunciado, que ele seja anátema”. Ou seja, que ele seja excomungado. São Paulo excomunga quem, por ventura, anunciar um outro Evangelho, ainda que se apresente como um anjo do céu. Assim como nosso senhor pede no Evangelho para que tenhamos cautela com os lobos em pele de ovelha. Então, em outras palavras, caros fiéis, não são os erros mais grosseiros, os erros mais manifestos que devem nos preocupar mais. E sim, os erros mais sutis, os erros mais sorrateiros, porque são esses que podem enganar os católicos devotos. Então, não faz sentido. É um erro contra a integridade da fé que um católico se associe a um erro mais sutil, a um erro mais parecido com a Fé íntegra sob o pretexto de combater um erro mais grosseiro, um erro mais manifesto. Nenhum erro, caros fiéis, nos dá direito de aderir a outro erro. Assim como nenhum pecado nos dá direito de cometer outro pecado. Se os católicos se associam a erros sutis, sob o pretexto de combater erros grosseiros, eles simplesmente trocam o lobo pelo lobo em pele de ovelha. Estão trocando lobo por lobo.


É por isso que nós devemos tomar a máxima cautela para que nós não sejamos tratados como católicos conservadores, ou como católicos de direita, porque nós não somos conservadores e nós não somos de direita, tanto quanto nós não somos progressistas ou de esquerda. Pois nós precisamos saber então, caros fiéis, que os termos direita e esquerda, eles não vêm da Tradição, eles remontam à Revolução Francesa. Basta que nós recordemos o que São Paulo diz na epístola aos Gálatas: “se alguém pregar um outro Evangelho, que ele seja excomungado”. Ou seja, para São Paulo, ou nós temos a Fé ou nós não temos a Fé. Ou estamos em comunhão com a Igreja, ou estamos fora da comunhão. Não há direita ou esquerda. E nesse sentido, quem é o católico conservador ou de direita? Ninguém sabe. Porque nós também ouvimos falar de conservadores que são protestantes, de conservadores que são ortodoxos, de conservadores que são liberais, e assim por diante. Na verdade, a única explicação razoável é que o conservador nada mais é do que alguém que se opõe ao progressista. Mas isso nos faz entrar justamente naquela péssima mentalidade de uma Fé aproximativa. Afinal, caros fiéis, com relação a um progressista radical, um progressista menos radical torna-se um conservador. E com relação a um conservador radical, um conservador menos radical, torna-se um progressista. E se por ventura alguém quiser empregar os termos direita e esquerda, que não se iluda, a conclusão é a mesma. Pois um católico de direita, comparado com outro católico de direita, pode se tornar um católico de esquerda. Assim como um católico de esquerda comparado com outro católico de esquerda, pode se tornar um católico de direita. Isso tudo quer dizer, caros fiéis, que um católico conservador ou de direita não é o católico fiel ao Magistério, não é o católico fiel à Tradição da Igreja, ele simplesmente se aproxima da Fé mais do que os outros. Porém, alguém pode se aproximar ainda mais do que ele e ser ainda mais conservador ou de direita. Mas nós já sabemos, caros fiéis, que a Fé Católica não admite aproximação, porque a Fé Católica é íntegra. Nós não seremos salvos porque somos conservadores e sim porque cremos em tudo o que a Santa Igreja Católica nos ensina. O que irá nos salvar é a adesão a toda a verdade revelada por Deus, e não uma decisão aproximativa. De nada adianta crer em muitos dogmas e duvidar de um único deles. De nada adianta ser um conservador com relação a um progressista, porque ambos conservam o que querem e rejeitam o que não querem. Cada um a seu modo, cada um num grau distinto. Portanto, caros fiéis, nós não somos conservadores. Que no nosso apostolado não haja uma única ovelha do rebanho que se defina conservador ou de direita, porque nós somos católicos como a Igreja sempre ensinou, e como a Igreja sempre viveu a Fé Católica, nós não queremos praticar uma Fé que se aproxima da integridade da doutrina, mas que não é a doutrina revelada por Deus à sua Igreja, nós não queremos praticar uma fé aproximativa. E nesse sentido, para concluir, se nós somos simplesmente católicos, e não católicos conservadores, isso quer dizer que nós também não somos tradicionalistas, ou então tridentinos. Essas expressões confundem, e dão a entender que nós fizemos uma escolha, que nós escolhemos ter uma apego à tradição da Igreja, ou por um capricho, ou por uma preferência pessoal, pois nós não pretendemos aderir à tradição da Igreja por um outro motivo que não seja o mesmo motivo de todos os católicos fiéis da Igreja, de todas as épocas da história, como nos ensina São Paulo, na epístola aos Tessalonicenses: “permanecei, pois, constantes, irmãos, e conservai as tradições que aprendestes”. Isso quer dizer, caros fiéis, que nós somos católicos fiéis à tradição como o São Paulo ensina. Nem mais, nem menos. Nós somos católicos como a Igreja sempre ensinou e sempre viveu a Fé Católica. Nós somos católicos, e não caóticos. E por isso nós somos simplesmente católicos, nem conservadores e nem progressistas, nem tradicionalistas e nem tridentinos, simplesmente católicos.


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